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12/30/2012

Transtornos

15:04
Transtornos
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Transtornos




TRANSTORNOS ALIMENTARES
Autoria: Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva






Os desvios de comportamentos associados à alimentação e à imagem do corpo costumam apresentar suas primeiras manifestações na adolescência, que podem causar impacto devastador na formação, saúde física e mental desses jovens. Os transtornos alimentares são alterações graves na conduta alimentar e os mais relevantes em nosso contexto sociocultural são a anorexia e a bulimia nervosas. Outra categoria de transtorno alimentar que desperta grande preocupação é a compulsão alimentar, conhecido como transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP).


Anorexia Nervosa (AN)

Transtorno que se caracteriza por uma profunda distorção da autoimagem corporal e pela busca obsessiva do emagrecimento, com restrições dietéticas autoimpostas e acentuada perda de peso. O predomínio é muito maior em mulheres do que em homens, numa proporção de 9:1. Geralmente se manifesta na adolescência, entre 12 a 16 anos, fase em que ocorrem as mudanças hormonais e corporais. A pessoa apresenta um medo descabido (patológico) de ficar obesa, ainda que seu peso esteja muito abaixo do esperado. Julga-se sempre gorda, mesmo quando está magérrima ou esquálida.
 

As anoréxicas costumam fazer jejuns prolongados, recusam-se a ingerir alimentos calóricos ou restringem-se a comer somente um tipo de alimento. Na maioria absoluta dos casos, os familiares só constatam a grande perda de peso muito tempo depois que o quadro se iniciou.


O que pode acontecer com a pessoa com anorexia nervosa?

A anorexia nervosa é uma doença crônica, grave, com altas taxas de mortalidade. Causa impacto devastador no desenvolvimento do adolescente e do adulto jovem, interferindo nos seus setores vitais: social, familiar, afetivo, acadêmico e profissional.

O transtorno causa desnutrição, o que resulta em alterações endócrinas e metabólicas, e distúrbios da função corporal secundários: amenorréia (ausência de menstruação), anemia, queda de cabelo, aspecto amarelado e envelhecido, osteoporose, destruição do esmalte dos dentes e, em casos mais graves, morte.

Cerca de 40% dos pacientes com anorexia nervosa têm sintomas de bulimia nervosa (ver a seguir) e, em alguns casos, os sintomas bulímicos precedem o início da anorexia nervosa.


Como é o tratamento da AN?
Devido às complexas implicações clínicas, além das psicológicas, o primeiro passo é a realização de uma cuidadosa avaliação clínica (por um clínico geral) e reabilitação nutricional (por um especialista da área de nutrição). Além disso, deve ser avaliada a necessidade de internação, não só por motivos clínicos como também psiquiátricos, uma vez que pode haver quadro de depressão profunda ou risco de suicídio.

Os pacientes anoréxicos são caracteristicamente desinteressados no tratamento, sendo muito difícil conseguir a sua confiança e cooperação, pois têm grande dificuldade de admitir que o seu comportamento pode ter consequências perigosas. Julgam seu comportamento alimentar como sendo "normal" e defendem suas atitudes como corretas.

O tratamento farmacológico pode trazer bons resultados, sendo que os antidepressivos são os medicamentos mais utilizados. Esta é apenas uma parte do plano de tratamento que deve incluir também a psicoterapia individual, a psicoterapia de família, bem como a internação hospitalar, quando necessária.


Bulimia Nervosa (BN)

Consiste em episódios de ingestão compulsiva e rápida de grande quantidade de alimento, com pouco ou nenhum prazer, que são acompanhados por um sentimento de perda de controle. Este episódio é interrompido por circunstâncias sociais ou pelo desconforto físico (dor abdominal ou náusea) e, geralmente, é seguido por sentimentos de culpa, tristeza ou autodepreciação.

A pessoa também tem episódios recorrentes de comportamento compensatório como induzir vômitos, usar laxativos e diuréticos de forma abusiva, fazer jejuns e exercícios físicos prolongados, na tentativa de prevenir o aumento do peso (a pessoa possui medo mórbido de engordar).

O vômito autoinduzido é extremamente comum, sendo encontrado em até 95% dos pacientes, provavelmente pelo seu efeito de redução imediata da ansiedade. Aproximadamente 20% dos pacientes obtêm, com o tempo, controle voluntário do reflexo de vômito por meio de uma contração abdominal, não necessitando mais induzi-lo.

Assim como na anorexia nervosa, a bulimia ocorre quase que exclusivamente em mulheres, numa proporção de 9:1 (nove mulheres para cada homem acometido). O início dos sintomas costuma ocorrer um pouco mais tardio que na AN, entre 18 e 23 anos, embora encontramos muitos casos com início entre os trinta e quarenta anos.

A procura de tratamento médico demora, em média, cerca de cinco anos. Esta demora na busca de auxílio decorre, frequentemente, de sentimentos de culpa e vergonha, assim como da ideia de que esse não seja um problema médico ou psicológico. Geralmente esta busca só ocorre quando há um problema clínico importante, prejudicando o funcionamento e os relacionamentos na família, no trabalho, na escola; ou quando há o desenvolvimento de sintomas depressivos. Obviamente, é melhor procurar atendimento médico antes que todos esses problemas ocorram, além de haver melhor prognóstico se o tratamento for feito mais precocemente.


Tratamento da BN

O ideal, pelo menos no início, é uma avaliação e um tratamento multiprofissional (clínico geral, endocrinologista, psiquiatra, psicólogo, nutricionista). Mas, infelizmente, a maioria dos pacientes é acompanhada somente por clínicos gerais ou por endocrinologistas, sem o adequado encaminhamento psiquiátrico. O tratamento da bulimia nervosa deve consistir de diferentes tipos de intervenção como farmacoterapia e psicoterapia.

É consagrado o uso de antidepressivos para este transtorno alimentar. O psiquiatra também deve estar atento para a existência de outras doenças como transtornos do humor (principalmente depressão), transtornos de ansiedade, abuso e dependência de drogas, entre outras, que costumam se associar à BN.

Também consideramos importante o acompanhamento por um clínico e por um especialista na área de nutrição, que poderá dar orientações precisas no sentido de promover uma "reeducação" alimentar.


Transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP)

É uma categoria ainda em estudo.Também conhecido como compulsão alimentar, o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) caracteriza-se pela ocorrência de episódios de descontrole alimentar, nos quais há uma ingestão desenfreada de alimentos, seguida por uma "ressaca moral" com autorreprovação e sentimento de culpa acentuado. Para que possamos realizar o diagnóstico, é necessário que este padrão
--> alimentar ocorra, ao menos, duas vezes por semana, por um período mínimo de seis meses. Além disso, diferencia-se da bulimia nervosa por não apresentar os comportamentos excessivos voltados para a perda de peso (vômitos autoinduzidos; uso de diuréticos, de laxantes etc.).

Embora exista uma íntima relação entre TCAP e a obesidade, devido à frequência e ao alto teor de calorias ingeridas a cada episódio de compulsão alimentar, é importante destacar dois aspectos: os episódios não ocorrem apenas em obesos e muitos obesos não apresentam compulsão alimentar. Dessa forma, a obesidade não pode ser critério determinante para se diagnosticar pessoas com TCAP.






Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva



Médica graduada pela UERJ com pós-graduação em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Honoris Causa pela UniFMU (SP) e Presidente da AEDDA – Associação dos Estudos do Distúrbio do Déficit de Atenção (SP). Diretora técnica das clínicas Medicina do Comportamento do Rio de Janeiro e em São Paulo, onde faz atendimento aos pacientes e supervisão dos profissionais de sua equipe. Escritora, realiza palestras, conferências, consultorias e entrevistas nos diversos meios de comunicação, sobre variados temas do comportamento humano.

Livros Publicados:
 Mentes Inquietas - TDAH: Desatenção, hiperatividade e impulsividade [Publicação revista e ampliada]
 Mentes e Manias: TOC: Transtorno Obsessivo-compulsivo [Publicação revista e ampliada]
 Sorria, você está sendo filmado (em parceria com o publicitário Eduardo Mello)
 Mentes Inquietas: Compreender o distúrbio do défice de atenção (DDA) // Editado em Portugal
 Mentes Insaciáveis: Anorexia, bulimia e compulsão alimentar
 Mentes Perigosas: O psicopata mora ao lado
 Bullying: Mentes perigosas nas escolas
 Mentes Peligrosas: Un psicópata vive al lado // Editado na Argentina
 Mentes Peligrosas: Un psicópata vive al lado // Editado no México
 Mundo Singular: Entenda o autismo
 Corações Descontrolados: Ciúmes, raiva e impulsividade

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